quarta-feira, 6 de outubro de 2010

As meninas invisíveis

Um dia uma das minhas alunas de teatro comentou: "Minha mãe acha que a gente perde muito tempo nas aulas. Ela acha que a gente deveria ensaiar mais".

É verdade, a gente deveria ensaiar mais.

Um dia ficamos uma hora e meia conversando sobre os sonhos e as coisas sem explicação que acontecem nesta vida.

Um dia eu estava sentado em uma padaria com umas quatro ou cinco meninas da turma quando percebi que elas conversavam aberta e naturalmente sobre os mais variados assuntos sem se importar com a minha presença. Eu também era alguém da turma. Ali, minha opinião era só mais uma.

E sim, isso é importante.

Na conversa sobre os sonhos, uma delas perguntou: "Por que não temos conversas como esta nas aulas de Filosofia"?

É mesmo: por que não? Aliás, por que não há conversas como essas na Bolsa em vez daquela gritaria?

Passei uns três anos registrando o que eu achava que só eu via naquelas oito meninas que hoje são o Grupo de Teatro Bastidores. Opiniões singelas sobre deixar de ser criança, sobre se sentir sozinho, sobre por que gostar ou desgostar de uns meninos que tocam numa banda com calças coloridas e fazem música só para elas. Sim, às vezes eu era um antropólogo tentando não julgar um povo que eu desconhecia por completo. Mas na maior parte do tempo eu era simplesmente humano, igual a elas, e compartilhava as mesmas dúvidas e inquietações, os mesmos sonhos, a mesma alegria.

Parte de tudo isso é um espetáculo chamado Meninas Invisíveis, que estreia no dia 21 de outubro, às 10 horas, no Teatro Alfredo Sigwalt em Joaçaba. Venham nos ver. A gente ensaiou o bastante.