terça-feira, 16 de março de 2010

Carta ligeira, e com a leve impressão de que é tudo um exagero

Parecia um pesadelo ou qualquer coisa assim. Eu andava por aqueles corredores e escadas, prolongando um vazio e um silêncio que não terminavam nunca. A gente ia mudar o mundo. Eu carregava uma mala com rodinhas, e dentro dela nove ou dez dragões que eu passei a vida inteira conquistando pro caso de haver uma guerra. E eu precisava dos seus unicórnios, daquelas bombas enriquecidas em Urano que só você sabe fazer. Mas eram corredores e escadas que só traziam abandono, e não adiantava gritar, chorar, correr ou desejar que não tivesse faltado luz durante a noite e que o despertador tocasse. Eu estava lá. Sozinho. Simples assim, e não havia nada que pudesse mudar isso.

Nem foi a primeira vez que tive que engolir o meu orgulho. E confessar a mim mesmo que, afinal, se eu fosse completamente honesto, eu abriria ainda a minha mala pra mostrar ao mundo não dragões, mas cataventos de papel meio infantis que nem ao menos sairiam voando. Este é o homem verdadeiro, o maltrapilho que se arrasta entre contas já vencidas e a vaga lembrança do calor humano contra o frio da noite. O homem escondido atrás do homem que se sentou em um degrau e achou até melhor que não pudesse chorar, porque era um lugar iluminado e ele estava exageradamente triste.

Enfim, não quero espalhar uma tristeza tão minha, tão misturada a outras que vieram de ontem, nem quero dar a impressão de atribuir a você a mínima responsabilidade por ela. Eu só queria que você soubesse que hoje eu abri mão de alguma coisa que importava pra mim, muito. Mas que afinal eu não teria crescido se já não soubesse que não resolve nada ficar batendo o pé diante da prateleira de iogurtes. Porque nem sempre a gente pode escolher, ponto final, só isso.

4 comentários:

Felipe disse...

lindo

Caroline Lipca disse...

lindo! tenho saudades dos seus textos, mas tenho mais ainda de vc, poeta.

Namorada disse...

saudades!

Vizionario disse...

Gostei.

ponto final, só isso.