terça-feira, 20 de abril de 2010

Como se tornar um escritor compulsivo

A ansiedade é um mar de cores muito vivas no qual eu tenho andado submerso, sempre demasiado opaco e sem conseguir me transformar em tudo quanto eu gostaria. Cada pequeno gesto me parece a última chance de alcançar qualquer felicidade; cada fracasso é um furacão que me devasta; cada hora vazia lança três bilhões de vezes o mesmo grito desde um corpo imóvel: que alguma coisa aconteça, que alguma coisa aconteça, que alguma coisa aconteça. Talvez fosse impossível não estar acontecendo alguma coisa o tempo todo. Talvez fosse impossível que tudo acontecesse ao mesmo tempo. Mas eu estou sufocando diante da janela aberta sobre uma paisagem gasta.

Eu vou pra Bahia, não, eu vou pra onde tem neve, não, eu vou pra um templo no Tibete ou dar a volta ao mundo em uma Harley Davidson.

Você tem um amigo a quem você pode contar absolutamente tudo? Há quanto tempo ninguém vê você chorando? Às seis horas da tarde, eu entro em casa e me apavoro com o grande nada que me separa da hora de dormir. É muita coisa guardada, é um caos de pensamentos e vontades sem espelho, sem nenhuma vazão, sem deixar nenhum vestígio no universo dos fatos. Você tem alguém contando histórias que você não quer ouvir? Você tem canais suficientes na sua TV a cabo?

A ansiedade é sempre um último cigarro. A ansiedade é engolir sem mastigar um prato congelado. A ansiedade é o telefone que não toca pra um convite que você recusaria à espera de outros. A ansiedade é uma merda. E saber disso não resolve nada.

2 comentários:

Vizionario disse...

hahahahaha.

Gostei do humor no final.

Assim como o Chico deu a definição definitiva de saudade ("saudade é o revés do parto, é arrumar o quarto do filho morto), vc ainda vai dar a de ansiedade.

E sem ser perguntado, respondo: não tenho canais suficientes na TV a cabo.

a disse...

vem pra Bahia, vem!