quinta-feira, 29 de abril de 2010

Pequeno inventário

Ver a noite passar e ter a sensação de que não há ninguém no mundo. Ver o dia passar e ter feito o melhor que pude, mesmo que pareça pouco. Ter amigos tão completamente diferentes entre si que às vezes me perco, e penso que sou muitos de tanto me parecer a cada um deles. Ter amado loucamente, e ter perdido, e ter amado loucamente, e ter perdido – uma vez mais, e outra. Aprender a cada dia. Ensinar sem perceber. Ser teimoso, ser volúvel, ser ingênuo e mau, sonhar na luta, destruir distraído. Ouvir em silêncio. Confessar a todos. A bagunça em casa, a ordem alfabética dos livros, a gata branca que se chama Pluma por causa de uma música do Secos & Molhados. No vazio da sala, as paredes têm um anjo, trinta e três flores arrastadas pelo vento e um refrão do Oasis cuja tradução é "me apoie, ninguém sabe como vai ser". Algumas rugas. Boa memória, boa até demais. Quinze cadernos. Um violão quebrado. E a alma que não cabe em nada disso.

Um comentário:

Vizionario disse...

Nunca vai caber.

E nem deveria...