terça-feira, 12 de maio de 2009

Sobre a melancolia

Quando você estiver em minha casa, leve de lá um poema do Vinícius que se chama Ausência; minhas anotações sobre Penélope; todas as músicas do Clube da Esquina. Em uma das gavetas do escritório, você vai encontrar o meu caderno de segredos revelados – amores eternos, um medo sem fim de viver – que eu gostaria que você queimasse sem pensar em ler. Uma caixinha de música na cômoda do quarto, presente muito antigo, não deve nunca mais tocar seu Pour Elise: leve um martelo. Quando você estiver em minha casa, não deixe o seu perfume em cada cômodo para eu sentir mais tarde; abra as cortinas contra o escuro; tire do vaso as flores muito secas. Na lavanderia, há sacos de lixo pretos: coloque neles minha boa memória, minha paciência para a espera, meu fascínio bobo pelas coisas que não posso ter. E, se couber ainda, leve também os fins de tarde, as noites de chuva, e sobretudo o riso interminável dos vizinhos. Não sei como me desfazer de tantas coisas. Preciso acreditar que elas jamais me pertenceram.

2 comentários:

Namorada disse...

tente, por mais que acredite em livrar-se delas, de certa forma elas ainda e sempre esatrão lá!

P.S. Tenho sentido saudades de ler você!

bjs!

Thaisa disse...

esse é um dos meus preferidos...
meu deus, estou viciada em ficar relendo você!rs