sexta-feira, 3 de julho de 2009

Além das cordilheiras

Valquíria estava parada à porta com lágrimas nos olhos. Eu contemplava pela última vez a vasta planície de vegetação dourada que era preciso abandonar – o meu lugar sagrado, meu lar, minha colheita de sonhos. Sete pares de cavalos pastavam perto da pequena casa de madeira, exceto por Netuno, meu companheiro mais leal, que se mantinha imóvel ao meu lado como já soubesse que eu não estaria ali por muito tempo. Corri meus dedos por seu pelo branco e luminoso; um vento leve, ao mesmo tempo, agitou as folhas de eucaliptos que margeavam a estradinha de terra. Era a última chamada à minha partida. Valquíria desceu correndo os degraus da varanda para um novo abraço, enquanto Netuno disparava como um raio rumo às cordilheiras distantes. Valquíria tomou meu rosto entre as mãos: eu sorria, mas nada era capaz de desmentir o coração doído. Beijei-a. Meus braços envolveram sua cintura pela última vez.

– Me espera? – ela perguntou sem voz.

– Nem sei partir – eu disse.

Beijamo-nos. Os lábios de Valquíria tinham gosto de pêssego, de lágrimas, de uma união indissolúvel.

Quando eu viesse ao mundo, já nem me lembraria mais daquele gosto. Mas seria sempre alguma coisa assim como um vazio constante no meio da alma.

Nenhum comentário: