sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Brisa

(Memórias)

O sol estava se pondo em Valfenda. Eu e meu irmão nos sentamos no terraço para conversar, entre flores, sob um céu de cores quentes: tudo estava imerso em uma paz absoluta. “O tempo para pra eu passar”, cantei de repente. E concordamos que, no fundo, Brisa era uma música triste. Mas – estranhamente emocionados – concluímos que tinha sido escrita por um anjo.

Foi uma das primeiras músicas que compusemos juntos. Nunca entendi direito aquele sonho de anos mais tarde, nem via nada de tão extraordinário assim em Brisa. De qualquer forma, era fato que tínhamos por ela um carinho especial; e entre amigos, quando estávamos em um bar ou em uma festa e não gostávamos da banda, esperávamos pelo intervalo entre uma música e outra para lançar bem alto o desafio:

– Toca Brisa!

Não tenho certeza de que a chuva dançava mesmo pelo céu na hora em que escrevemos a primeira frase. Tenho a impressão de que era apenas uma manhã cinza. Até porque, depois que nos enrolamos no meio da música, decidimos ir terminá-la ao ar livre, em um dos parques da cidade. E foi assim que o Bosque Alemão ofereceu a imagem que faltava à nossa canção sobre um lugar que desperta e ainda sonha, sem pedidos nem metades.

Um grupo de alunos de uns seis ou sete anos passeava pelo parque. E, em nossa música, aquelas crianças eram tinta escorrendo pelo chão de pés descalços, cores brincando distraídas no jardim e o medo desaparecendo devagar em um sorriso.

Então eu não entendo como Brisa pode ser no fundo uma música triste.

Mas sim, acho que entendo o anjo.

4 comentários:

Vizionario disse...

Desta vez tenho mais perguntas que comentários:

Porque aqui? Porque agora? e por que essa exatamente?

Desculpe, mas fiquei realmente curioso.

Roger Dörl disse...

então, até bom você perguntar porque eu queria mesmo uma opinião.

é uma série de memórias. de bons momentos. tenho três escritos, achei que esse tinha mais a ver com meu momento de agora e comecei com ele, só isso. o que eu fiquei na dúvida foi se eu deveria identificar as "memórias". fiquei pensando se faria sentido dividir assim ficção e não-ficção. sugestões?

Vizionario disse...

Bom, que bom que são de bons momentos.

Quanto a pergunta, difícil. Identificar as memórias é ajudar a localizá-las, mas isso só é relevante para os que te lêem, pois vc já sabe onde a memória está.

Gosto da divisão entre ficção e não-ficção, justamente pela localização.

E também só para variar, exercitar.

Roger Dörl disse...

ok, acho que fica melhor assim.

na verdade os textos não se justificam muito como ficção.

obrigado.