segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Duplo

Algo me detém antes da curva, ou de fechar a porta: são olhos meus em outro rosto, é um pouco estranho. Ela – porque é “ela”, e nada disso é extraordinário – agita uma taça de cristal com sal na borda, batom na boca, derrama um punhado de palavrazinhas e eu escuto a minha voz pensar em outra voz, em outro sexo, outra saliva. E eu me embriago de mim. Mas nela. Somos de uma mesma tempestade interna, dos mesmos barcos naufragados, da mesma superfície clara e limpa conquistada à força? Do mesmo sopro? Ficamos assim. Imóveis, contidos. Não diremos um ao outro o que se passa no mais obscuro de nós mesmos – um pouco porque não importa, um pouco porque já sabemos – e nos olhamos de longe antes da curva ou de fechar a porta e finalmente agradecemos. Agradecemos? Agradecemos. Porque estamos sim completamente sós. Mas nunca é tanto.

Um comentário:

Vizionario disse...

Experiências...

interessante.