segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Identidade

Quando ela disse "eu gosto muito de você", não era a fama, a grana, o diploma na parede; não eram os poemas que eu mandava; não eram as canções que eu lhe fazia. Quando ela disse "eu gosto muito de você", não disse mais "doutor", ou "professor", ou "mano velho"; não disse nem meu nome; não esperou que eu respondesse nada. Falou assim, olhando nos meus olhos, mas meio sem pensar e por acaso, como se dissesse "é terça-feira", ou como se bebesse um gole d'água. Quando ela começou "eu gosto muito", e estava tão inteira e tão sincera, podia só dançar diante do espelho – que eu ia ser "você" na imagem dela.

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