sexta-feira, 19 de junho de 2009

O inevitável

– Está vendo aquela casa lá? – eu perguntei. Estávamos no alto da montanha, ele de passagem, eu em uma conturbada guerra interior. Eu mal conseguia erguer a mão para apontar; ele, por outro lado, estava cheio de energia e excitação: nem teria parado se a minha voz não estivesse tão fraca ao pedir-lhe um gole d’água. Ele se virou para olhar na direção em que apontei. Uma casinha branca, no alto de uma colina distante, expelia uma fumaça igualmente branca pela chaminé. O homem fez que sim com a cabeça e esperou. Eu continuei: – Serei muito bem recebido ali por sete pessoas que nunca antes tinham me visto. Em alguns dias, estarei sendo tratado como um membro da família; e, pouco tempo depois, é o que de fato eu vou ser. Vou me apaixonar perdidamente por Gabriela, a filha mais velha do casal, e depois de um ano e meio vamos nos mudar, como marido e mulher, para outra casa que terei construído em algum lugar aqui por perto.

O homem recebeu de volta o seu cantil com os olhos arregalados fixos em mim. Abriu a boca para falar, mas não encontrou as palavras. Franziu a testa e esperou outra vez, como se a sua pergunta já estivesse clara o suficiente para mim.

– Sim – eu disse. – Saí de casa há doze anos, exatamente como você, em busca de aventuras. Mas nem de longe vivi tudo o que eu estava pensando que ia viver...

Fiquei em silêncio. O homem olhou mais uma vez para a casa distante, e depois de volta para mim, ainda sem entender. Era óbvio que ele estava movido pelo mesmo impulso que eu tive, havia doze anos, e que simplesmente não conseguia imaginar-se chegando ao ponto em que eu estava. Preferiu não pensar no assunto, agitando a cabeça levemente e voltando sua atenção para o cantil. Fechou-o, sem pressa; guardou-o de volta na mochila. Quando começou a se afastar, sentei-me em uma pedra e olhei para lugar nenhum. Ele se deteve apenas alguns passos adiante.

– E você vai simplesmente... desistir?! – perguntou.

Eu sorri.

– Estou sentado nesta pedra há onze meses.

3 comentários:

Vizionario disse...

Borgiano, deveras borgiano.

Bom.

a disse...

Não lembro onde achei seu blog, mas sempre venho aqui... e adoro seus textos ^^

Bipolar Galvanizado disse...

Não sei se realmente entendi por completo, mas o texto foi incrivelmente belo aos meus olhos tortos hoje, de alguma maneira, de alguma maneira, de alguma maneira (perdoe a piada interna, mas não me contive) isso mexeu demais comigo