quarta-feira, 11 de março de 2009

Flashback

A cidade é muito grande para estar tão quieta, Nina, para contar num dedo só os poetas trágicos que, avidamente, bebem a meia-chuva nessas ruas amarelas de paralelepípedos. Só a teu lado, Nina, só quando você cruzava silenciosa a noite que eu também sofria havia algo de alegre nesta escuridão borrada. Até chegarmos à penumbra de um apartamento baixo, de poltronas velhas, de cigarros e conhaque ao som de uma irlandesa de quem nunca perguntei o nome. E eu te amava sem palavras, sem sentidos, só um deslumbramento vago pelo branco delicado da tua pele. Nina, Nina; você falava muitas coisas que eu não entendia: romancistas tchecos, dançarinas búlgaras, filósofos sul-coreanos povoavam teu apartamento como convidados óbvios – e como eu manteria o meu orgulho sem saber quem eles eram? A tua companhia era o mistério bruto, Nina, indevassável, numa solidez incômoda de tanto "agora". E agora um mais-ou-menos dentro do meu peito; não mais que um nome bêbado de meu vazio-memória, madrugadas mortas, fantasma que escorreu do meio-fio para os meus pés que são os últimos na noite do planeta.

Um comentário:

Namorada disse...

Recomendo um curta-metragem catarimense, gravado na minha terra natal, numa pequena vila açoriana onde as vezes volto prá rever parentes, chamado: ALUMBRAMENTO !

Acho que você vai gostar!