quarta-feira, 4 de março de 2009

Do princípio

O que é do coração pede licença pra nascer. Debate-se em palavras, fere, é ferido, envergonha-se de ser tão frágil. Não sabe o que é beleza; não atende ao que se espera: apenas nasce num pedido de desculpas, assustado de existir, trêmulo, tímido. Nem saberia o que fazer se lhe pagassem o seu preço pelo encantamento.

O que é do coração leva o seu tempo – conquistando espaços. Não pede muita coisa além do olhar atento, da lembrança de que vive; mas não rouba, não consome, não invade. Existe, e isso é tudo o que lhe cabe. No ponto em que o deixamos, como um livro e, se for quadro, tem mesmo um tempo de secar a tinta pras camadas que ainda faltam. E permanece assim, e exala o seu perfume denso.

Até que um dia, cansado de conter a própria natureza, o que é do coração escapa de si mesmo. Rompe as grades; transborda como lava e rocha e asa pra habitar um corpo – e nele pulsa, e nele acorda, e nele move: o que é do coração não tem mais volta; o que é do coração tornou-se um homem.

Um comentário:

Carol Brunoni disse...

Interessante... mas acho que é mais do que isso (interessante), talvez porque tenha me perdido em alguma parte, ou talvez porque o que é do coração não se defina...