quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Construção de cena casual

Um dia, estaremos sentados os dois olhando o mar – é absolutamente necessário que seja o mar – e eu te direi que nos velhos tempos... Não: você vai segurar a minha mão e sorriremos de puro afeto, relembrando em silêncio o dia em que nos conhecemos. Só então eu direi: Você me ensinou a não amar sozinho, sabe? Porque antes eu amava – mas isto eu não direi, é só subtexto – sem conseguir colocar pra fora. (Subtexto não importa, pode ser assim mal escrito.) Você vai apertar mais forte a minha mão, subitamente melancólica. Longa pausa enquanto o sol se põe. Depois você dirá – pode ser nesse tom, mas com um pouco mais de ênfase no "planejando": Aposto que você já estava planejando tudo isso. Com uma displicência calculada, eu vou dobrar o roteiro e responder: De todo jeito acaba sendo um improviso. Teus olhos vão brilhar de admiração: que grande ator eu sou. Mas quando eu te beijar, quem sabe, se as ondas se quebrarem com bastante força, nenhum de nós vai escutar gritarem "corta".

Um comentário:

Carol Brunoni disse...

Leve e confusamente lindo.