quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Pequena Alegoria

A aia do principezinho vagava pela imensidão do palácio sem ter com quem conversar. De companhia, apenas a criança que ela aprendia a amar a cada pouco – o menino orgulhoso e confundido pela ideia de que um dia seria rei. Passava com ele manhãs e tardes, descobrindo e arquitetando traços em comum – ela mesma sem lembranças de um amor de pai. Quando inventou de costurar para ele roupas de guerreiro, um pouco para amenizar a solidão das noites, foi porque já àquela altura conhecia bem os sonhos do menino. E foi assim que se lançou ao trabalho, a princípio cantando com alegria, depois espantada pelo fato de uma ideia tomar formas através de suas mãos. Prendia com cuidado cada uma das peças, cada uma das pedras do bordado, ora pensando se já não havia demasiado brilho, ora se o menino entenderia que era sua maneira de dizer que o amava. Quando a roupa ficou pronta, muito tempo depois, quase lhe pareceu que o príncipe era um outro, tão diferente daquele que ela imaginava no silêncio do seu quarto. Mas havia então uma luz nova e intensa nos olhinhos dele, correndo pelos cantos sobre montarias invisíveis, combatendo heroicamente os monstros de sua própria solidão, seguro e corajoso, um homenzinho inteiro e sorridente. E assim, quando ele veio cabisbaixo, uma das mangas da blusa nas mãos, e disse envergonhado que "rasgou durante uma batalha", ela conteve as lágrimas que vinham dos cuidados com a roupa, acariciou sua orelhinha com o polegar direito e se apressou em uma voz que já falhava: "Eu estava vendo".

5 comentários:

Anônimo disse...

Minha nossa, onde foi que eu já li isso? Terminava assim?

Roger Dörl disse...

você me ouviu lendo.
terminava assim.

Anônimo disse...

seu espaço é mágico pra mim. seja no diferença nenhum ou no marca d'agua,sim, nos veremos.

Anônimo disse...

diferença nenhuma e mapa d'agua, quis dizer.

Roger Dörl disse...

:)

grato.