quarta-feira, 8 de abril de 2009

Carta a um companheiro de batalha

Velho amigo;

Ainda pensando em melhorar o mundo, mas não muito atento ao que acontece nele desde que entrei em greve. Pelas condições precárias de trabalho, pelo ambiente insalubre; mas também por causa desse meu acúmulo de funções. Tranquei-me em casa e pendurei um cartaz na porta com os dizeres: "O mundo é dos espertos; eles que se virem" – ok, foi num momento de raiva, agora eu já tirei. Mas estou começando a achar que transformar o mundo é uma capacidade atávica, e estamos justamente naquela geração em que o gene não se manifesta. Será que alguém aí não pode dar uma mãozinha?!... Você sabe que eu tenho essa tendência ao messianismo, e me sentir sozinho não ajuda muito. Começo até a achar bonito as crianças daqui me chamarem de Jesus por causa dos cabelos e da barba que eu não tiro por preguiça (e uma menina da faculdade disse que eu lembro as imagens dele por causa dos olhos tristes!) Também é divertido reparar que da capital para a província eu fui do bairro Cristo Rei para o Menino Deus – veja bem, não é um detalhe delicioso? – mas a verdade é que eu gostaria mesmo de estar ocupado com alguma coisa mais importante do que isso. Não estaria na hora de organizarmos algumas reuniões secretas? Pichar muros, distribuir panfletos, ministrar palestras para os maiores interessados? Tem muita gente por aí pensando que somos do tipo "sem causa": não seria o momento de publicarmos nosso manifesto? Com reivindicações mais claras? "Queremos um mundo melhor", você sabe, caiu em descrédito – já deve ter estado em umas duzentas campanhas publicitárias, e só piora. Pense nisso, por favor. Depois conversamos. Mas não demore muito, sim?, porque daqui a pouco vão estar cobrando e eu realmente não queria ter que dar nenhum sermão na montanha.

Abraços.

Um comentário:

Vizionario disse...

Após algum tempo, devidamente respondida. Abs.