domingo, 19 de abril de 2009

Das pequenas surpresas

Só um pouquinho de atenção, bebê, e você descobre que a vida extrai poesia de si mesma. Essa vida confusa, essa vida sombria que levamos por fazer a opção de não entrar no jogo – sem medir a força, sem nenhum aviso prévio nos aplica um golpe ao acender a luz; ao encontrar velhos amigos; ao dobrar a esquina calculando as quadras que ainda faltam. Mas um golpe de beleza, meu bebê, aquilo que outros chamam de golpe de sorte. Só que então pensamos que o presente não é nosso, que não pode ser; que não o merecemos, afinal, de tão acostumados que ficamos a esperar sempre o pior. Porque nos viciamos na acidez da ironia; porque gastamos as palavras pra falar no amor como um efeito especial na tela do cinema. Mas um presente da vida, bebê, não pode ser ignorado, transferido, jogado fora ou devolvido ao remetente. Porque ele vai ficar ali pregado bem no centro da salinha de TV, até que você se canse de estar sempre tropeçando nele – e então perceba, pro seu grande espanto, que ele é mais ou menos a mesma água que você buscava no meio das noites.

2 comentários:

Ju disse...

áh, bebê... o tempo é um sopro e "a vida é curta para ser pequena", né?
beijos
: )

Roger Dörl disse...

:)
gostei