segunda-feira, 13 de abril de 2009

Sob um céu de abril

"Sim, estou apaixonada por você", ela disse. Havia algo de aéreo naquelas palavras, e havia essa poeira que pousava mansamente sobre um assoalho de madeira. Em uma biblioteca simples, no coração de um parque em Curitiba. "Você pode levar o que quiser", ela continuou, depois de longa pausa; "os livros que você emprestou, os quadros que você pintou pra mim. Pode levar aquelas noites todas que eu passei sonhando que você também me amava; as músicas de amor que me lembravam de nós dois; aquele monte de coraçõezinhos bobos que eu tracei com o dedo em vidros embaçados". Seria inútil responder. Nem nos olhávamos: mantínhamos o olhar perdido fora da janela, contemplando o lago, o seu reflexo pálido à luz da manhã. Ela continuava: "Pode levar a minha última esperança de me sentir segura – porque eu acho outra; pode levar a sensação intensa de estar viva que me vem só de escutar teu nome; pode levar essa alegria sólida, concreta, real e ao mesmo tempo mágica, infinita, delicada. Pode levar. Eu acho outra". Não resisti à vontade de vê-la enquanto ela falava tudo aquilo. Por pura crueldade trágica. Eu a amava perdidamente, mas sabia que nossa história não iria adiante: vivíamos em mundos separados. Eternos como Adão e Deus no teto da capela. "Mas uma coisa você nunca vai poder levar", ela dizia enfim. E eu já sabia o que era. Porque era o que eu também diria se não fosse ela quem tivesse começado. "Você nunca vai poder levar uma certeza que eu tive no dia em que viemos aqui juntos pela primeira vez. Você nunca vai poder levar essa lembrança clara do dia mais feliz da minha vida. Você nunca vai poder levar o que ficou em mim: você nunca vai poder levar o que já é você dentro de quem eu sou".

Um comentário:

Thaisa disse...

...somos todos partes uns dos outros...