terça-feira, 28 de abril de 2009

Crônica de um segredo que não me pertence

Raios de luz, cristais de muitas cores ocupam numa dimensão desconhecida o mesmo espaço em que eu, subitamente esquecido de tudo, enxergo apenas os teus pés voando escada abaixo em direção a mim. A concretude do teu corpo em roupas coloridas, teu cabelo solto, os braços e sorriso abertos vão curvando o espaço à tua volta na medida exata de um retrato; tudo é sólido e real, mas numa intensidade nova e infinitamente superior. Mas ainda assim, quanto mais próximo de ti menos compreendo essa realidade do mundo: para mim não somos mais do que dois personagens mergulhados em névoa, completamente imóveis um em frente ao outro, olhos nos olhos, sem compreender como é possível não estarmos juntos numa só matéria. E finalmente então, sem nada receber de ti além da breve sensação de um toque, percebo a minha pele dissolvendo em fogo as próprias cicatrizes, rugas, marcas – tudo o que nasceu do tempo; sou jovem outra vez e nada me ameaça: meu coração transborda lentamente a sua fonte oculta de imortalidade.

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